Saturday, April 08, 2006

Cultura gotica

Ola pessoas... essa semana eu nao pude assistir nenhuma aula da professora Marta, entao, nem sei a atividade que tenho que fazer agora... em todo caso, estou refazendo a dissertacao sobre "A importancia da leitura na vida do universitario", a qual sera publicada aqui no blog amanha, sem falta!

Queria deixar um texto para voces sobre a cultura gotica, da qual sou simpatizante, acho muito linda, apesar de todo o preconceito que existe.

CULTURA GOTICA

O senso-comum parece encarar os góticos como pessoas melancólicas, às vezes depressivas. Isso não é verdade para a depressão (não de forma vinculante), mas pode ser verdade se ajustarmos o conceito de melancolia para aquilo que os próprios góticos traduzem. Por melancolia gótica pode-se pensar num sentimento de paz tão interior que muitas vezes dispensa a exteriorização frenética de manifestações exteriores. O sentimento de reflexão ou simplesmente de contemplação traz a necessidade de uma quietude que é fundamental para a sedimentação daquilo que toca em nossa sensibilidade. Isso pode ser uma música de caráter nostálgico, a vivência interior de algumas memórias, a autocontemplação ou mesmo a catarse resultante a observação de um cenário sensibilizante. Algo como acordar, quando muito cedo, abrir as janelas e sentir aquele frio de certa forma regenerador mesmo que “aparentemente” desconfortável (pulsão de vida), e notar um céu cinzento do qual caem minúsculas gotas de sereno. Ou ainda saudade. Saudade de tempos que nunca se viveu, passados, ao lembrar ícones que nos transportam pelas viagens da mente aos imemoriais tempos antigos ou, porque não, futuros?
Enfim, alguns sentimentos podem não ser exatamente a melhor descrição do que as pessoas chamariam de “bom”, no entanto eles são as coisas que mais nos dão a certeza de estarmos vivos. E isso acaba gerando uma ambivalência que é apreciada sobremaneira pelo gótico. Por isso, quando um gótico às vezes aparentar algo melancólico saiba que isso não quer dizer que ele está obrigatoriamente “triste”. Pode ser que ele esteja paradoxalmente feliz em seu estado interior.

Se alguém que você conhece e que se declara gótico discordar do que escrevi até aqui sobre as características fundamentais do goticismo, então sugiro que a luz vermelha do seu ceticismo se acenda na direção de um de nós dois (eu ou seu amigo). No entanto, as declarações a seguir são produto mais de uma reflexão pessoal com base na experiência do que um tratado que aspire à exatidão, e como vou ousar em uma questão relativa a fatos existentes mas pouco debatidas entre os góticos é esperado que isso renda controvérsia.
Vimos nos parágrafos anteriores que o goticismo é caracterizado por um modo de se perceber o mundo e a vida, ou seja, não é obrigatório que alguém exteriorize isso no vestuário ou em atitudes imutáveis. Isso também leva a consideração de que alguém pode ter uma personalidade gótica, mas nem mesmo se dar conta disso (relacionando-a ao goticismo). Em outras palavras, pode haver pessoas que tenham esse sentimento gótico, o romantismo, o prazer estético pelo clássico e medieval e ao mesmo tempo pelo surrealismo, e ainda assim não ter sequer ouvido falar de “góticos”. No entanto, parece sensato aos que tem o conhecimento sobre os góticos caracterizar, ao menos para si, essa pessoa como uma pessoa de índole gótica.
Não sou chegado a “evidências anedóticas” (casos pessoais) para exemplificar argumentos, mas dessa vez e apenas em função didática vou quebrar o protocolo. Desde meus 12 anos, aproximadamente, comecei a me interessar pelo oculto. Não necessariamente “ocultismo”, mas aquela “admiração socrática” com o que me pareciam mistérios dignos da minha mais pura curiosidade. Subsidiariamente a isso um sentimento interior às vezes de melancolia, às vezes de euforia me assolava ao contemplar alguns fatos da vida dos quais eu era bem mais ignorante que hoje. Eu gostava de diversos tipos de cores de roupas, mas me interessava muito mais pelas de cor branca e de cor preta. Jamais roupa com estampa. Cheguei a ser apelidado, aos 14 anos, de “Luto” na sala de aula que freqüentava. Confesso que me sentia diferente não por isso, mas porque algumas coisas pareciam me chocar mais do que chocavam à maioria. Eu parecia ser mais sensível aos apelos do drama, da alegria e especialmente da dor e tristeza das outras pessoas. Com 15 anos, morando em praia e já então tendo me convencido a abandonar as roupas escuras, conheci algumas pessoas que se intitulavam “góticas”, e com estes tive o sentimento de ter “me encontrado”. Hoje em dia, com 27 anos, moro em cidade que não encontrei nenhum grupo que se intitule assim, mas é certo que esse sentimento que sempre houve em mim me acompanha.
Conheci sim outras pessoas, mais ou menos parecidas, e que partilham comigo esse sentimento que caracteriza os góticos. Algumas dessas pessoas com 40, outras com 50 anos, e que parecem expressar no olhar um sentimento de busca e ao mesmo tempo de romantismo, da opção estética relacionada ao medieval e da atitude mental que não ignora os conceitos pós-modernos e o surrealismo. Para essas pessoas, o vestuário preto, o branco ou em estilo simplesmente “clássico” ou ainda “roupas sem estampa” parecem fazê-las recordar de sentimentos que antecedem a própria existência (o que lembra a melancolia gótica).
Esse é o ponto crítico, onde ao meu ver faz-se necessário repensar conceitos. As pessoas góticas que conheci concordariam plenamente comigo que os exemplos que citei franqueiam sem sombra de dúvidas as características do goticismo. Como afirmou o sociólogo Mannhein em 1960, citado na introdução deste ensaio, pertence-se muito mais a um grupo por ver as coisas como ele vê do que por se “auto-intitular” ou ser “reconhecido” como tal.
Eu não conheci todos os góticos que existem, mas ao contrastar as pessoas que intitulam como tal saltam-nos à vista questões que ao meu ver merecem uma reflexão.

Peterson Leal
Academico do curso de Ciencias Sociais da UFMT

Disponivel em http://www.paginagotica.com

Ate mais, queridos!!!

Postado por Amanda

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