Tuesday, April 18, 2006

RESENHA

RESENHA
Martins, Maria Helena. O que é leitura. 19 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, 93p. (Coleção primeiros passos; 74).

Maria Helena de Souza Martins, nascida em 1941, em Porto Alegre. Lecionou na UFRGS e na USP, na qual se tornou Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada. Porém, não se limitou à docência e pesquisas universitárias, em sua participação em projetos sociais, percorre o Brasil para a formação de leitores. Algumas de suas obras são: Reinventando o diálogo: ciências e humanidades na formação do professor, Questões de linguagem, Outras Leituras, além de O que é leitura.

Em O que é leitura, Maria Helena Martins percorre todo um panorama de o que seria a leitura, falando de todos os tipos de leitura e de como se inicia o ato de ler. Sua obra está dividida em seis capítulos. Começando com Falando em leitura, passa por Como e quando começamos a ler, Ampliando a noção de leitura, O ato de ler e os sentidos, as emoções e a razão, A leitura ao jeito de cada leitor e termina com Indicações para leitura.

O primeiro capítulo, Falando em leitura, é uma introdução do que se caracteriza a leitura. A autora mostra que ler não se trata apenas de livros, leitura da palavra escrita, mas do mundo, de um objeto ou de uma cena cotidiana. A transição entre simplesmente presenciar uma cena e realmente lê-la ocorre de "modo casual, sem intenção consciente", dependendo apenas das circunstâncias em que se está inserido o momento. Porém, na leitura de um texto escrito, esse processo não é tão simples. As pessoas se habituam a ler superficialmente e isso acaba se estendendo à leitura como um todo. Por isso é necessária a continuidade da leitura do mundo. E a autora termina seu capítulo com uma frase de Paulo Freire: "a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura implica a continuidade da leitura daquele".

Como e quando começamos a ler nos mostra o inicio do processo de leitura, como o próprio título diz. Os primeiros passos são iniciados no primeiro contato com o mundo, quando se começa a compreender e conhecer tudo o que nos cerca. E esse aprendizado da leitura não é ensinado por ninguém. Como diz a autora: aprendemos a ler vivendo. Em dois exemplos que cita, demonstra que, no aprendizado da leitura, o indivíduo precisa estar curioso, necessitando desvendar o que está a sua volta e a conhecer-se através da leitura, "do que lê e como lê". Porém o aprendizado da leitura não é tão simples. O aprendizado pode ser dificultado quando as pessoas possuem condições de sobrevivência precária ou convívios sociais restritos, um problema da sociedade carente em que estamos inseridos. Portanto, deve-se começar "a ler por conta própria, ainda que a duras penas".

Entre os gregos e romanos, saber ler possibilitava integração à sociedade, uma educação adequada significava o desenvolvimento intelectual, espiritual e físico. Porém, mesmo sabendo que ler é importante para estar em contato com o mundo e conquistar autonomia, as pessoas não utilizam esse instrumento de maneira mais ampla, limitam-se a ler apenas por ler, com finalidades escolares. O problema de a leitura estar ligada apenas aos livros é, em parte, culpa do sistema educacional e das condições sócio-econômicas do país. A leitura é influenciada pelas circunstancias pessoais e sociais. Portanto o educador deveria criar condições para o aluno aprender, conforme o interesse pessoal de cada aluno, e não, simplesmente, ensinar a ler.

No capítulo seguinte, O ato de ler e os sentidos, as emoções e a razão, a autora discorre sobre os três níveis de leitura: leitura sensorial, leitura emocional e leitura racional. Mesmo sabendo que os níveis de leitura não ocorrem sempre numa só ordem, podendo ocorrer simultaneamente, a leitura sensorial é, na maioria das vezes, a primeira leitura. É o processo de sentir o que estamos lendo, utilizando todos os nossos sentidos, olfato, tato, paladar, visão e audição. Porém, quando uma leitura nos traz algum tipo de emoção - alegria, tristeza, lembranças ou outras emoções - trata-se de outro nível de leitura, a leitura emocional. Já a leitura racional é o que dizem ser a "capacidade de produzir e apreciar a linguagem". No processo de leitura racional, o leitor faz uma correlação entre o texto lido e sua experiências vividas. É um processo dinâmico, que está sempre se renovando a cada aprendizado ou experiência do leitor. Portanto, para ler, o leitor experimenta uma interação entre o racional, o emocional e as suas sensações, mesmo em doses diferenciadas.

A leitura ao jeito de cada leitor, capítulo seguinte trata do fato de que cada leitor deve buscar sua forma de ler e deixar a leitura agradável, gratificante. Mas o fundamental é a continuidade da leitura e consequentemente do aprendizado. E para esse aprendizado, é necessário discutir, questionar e buscar esclarecimentos a respeito do texto lido, seja em outros textos, ou com outros leitores.

Em seu último capítulo, Indicações para leitura, Maria Helena Martins diz que todos os textos, que estão ao nosso redor, em diversas linguagens, podem nos ensinar a ler. Porém com os textos escritos a reflexão em torno do texto é mais fácil. Por esse motivo, a autora indica vários textos ao seu leitor, dentre eles está A Importância do ato de ler, de Paulo Freire; Do ideal e da Gloria, de Osmar Lins; A Arte de Ler, de Mortimer Adler e Van Doren; além de vários livros da Coleção Primeiros Passos como, Ideologia, de Marilena Chaui; Literatura, de Marisa Lajolo; Arte, de Jorge Coli.

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